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Machismo online pode parar na justiça: o eSport não é terra de ninguém

Leo Bianchi

30/01/2020 08h51

A jogadora de League of Legends da INTZ, Júlia Mayumi, disse que vai acionar na justiça o ex-jogador e streamer de LoL Pedro "Lep"

Não há dúvidas de que o esporte eletrônico já está legitimado como um mercado enorme no Brasil e no mundo. O consumo de campeonatos, streams e conteúdos em geral desenvolvidos por organizações e influenciadores é notável. Mas um ponto intriga e causa polêmicas quase que semanalmente: a comunidade já percebeu que o eSport não é algo "à parte" da sociedade e que estar em um ambiente online não te faz imune de opiniões preconceituosas ou discriminatórias? Minha resposta é: em geral, não.

Nesta semana, tivemos o exemplo de Pedro "Lep" Marcari, jogador de League of Legends que já foi campeão brasileiro e fez parte da KaBuM!, primeira equipe a representar o Brasil no Mundial do game, em 2014. Durante uma stream, ele riu de uma piada de péssimo gosto, machista, feita por um espectador seu em relação a Júlia Mayumi, jogadora da INTZ e uma das poucas mulheres a atuarem profissionalmente no game no cenário nacional. Depois da reação da comunidade, Lep pediu desculpas nas redes sociais. Mais tarde, voltou a causar polêmica por motivo semelhante, como é possível ver nas postagens abaixo.

As reações de boa parte da comunidade, fãs ou não de Lep, defendendo-o e tratando o caso como "lacração" dizem muito sobre como ainda precisamos evoluir nesse sentido e como os próprios jogadores têm de ter dimensão das próprias opiniões ou do conteúdo que criam na internet. Eles estão influenciando diretamente muita gente. E que fique claro: isso não é uma crítica direcionada aos fãs de LoL, mas sim uma reflexão sobre todos que acompanham e amam os eSports, como eu e você.

Não há espaço para machismo, assim como não há para homofobia ou qualquer tipo de discriminação. Vemos, todo o tempo, mulheres extremamente competentes sofrerem para ganhar espaço no esporte eletrônico – seja no casting, comentando e analisando, ou no caminho para o profissionalismo como jogadoras. Isso precisa mudar urgentemente. E começa com cada fã e cada influenciador, nesse contato direto entre milhões de pessoas no dia a dia.

Os games não são uma "terra de ninguém", e o respeito deve prevalecer acima de tudo. Os eSports são de todos, e fechar as portas de um ambiente tão maravilhoso a determinados grupos é um desastre. "Passar pano" não resolve nada. É necessário combater qualquer atitude que esteja na contramão da inclusão. É uma mentira enorme dizer que "videogame é coisa de menino" ou qualquer coisa do tipo.

Julia Mayumi é uma das poucas mulheres competindo na elite de um campeonato profissional de eSport no Brasil. Queremos um ambiente vulgar e hostil como o futebol ou seremos exemplo de civilidade?

Repetimos o tempo todo que "eSport é esporte". Então, que todos sejamos profissionais, como demanda um ambiente esportivo de alto nível. Que os jogadores e criadores de conteúdo sejam exemplos e ajudem a criar um ambiente menos tóxico, atrativo a quem busca nos games uma forma de entretenimento, uma distração ou até um emprego. Sejamos um motivo de reflexão positivo, e não negativo, para o ambiente externo.

Sobre o Autor

Leo Bianchi é jornalista, já foi repórter e apresentador do Globo Esporte. É apaixonado por competição e já cobriu Copa do Mundo, Fórmula 1, UFC e mundiais de CSGO, R6, FIFA, Just Dance e Free Fire. Também é youtuber e Pro Player frustrado.

Sobre o Blog

No GGWP você encontra análise dos cenários competitivos no Brasil e no mundo, além dos bastidores do universo envolvendo times, pro-players e novidades em geral.