Topo

Existe amor à camisa nos eSports? Os fãs torcem por times ou jogadores?

Leo Bianchi

09/05/2020 10h00

Corintiano, Bruno "Nobru" é o principal jogador de Free Fire do Brasil. Ele nunca atuou profissionalmente por outra equipe

Um dos principais debates do futebol brasileiro é a falta de "amor à camisa" por parte da maioria dos jogadores. Craques se destacam nos clubes do país e, rapidamente, muitas vezes sem sequer levantar uma taça, partem para a Europa. E nos eSports, existe esse sentimento, de jogadores muito identificados com determinadas organizações? Como funciona a mentalidade de torcedores e pro-players nesse sentido?

O primeiro fator a ser compreendido é que, nos eSports, há muitos fãs que torcem para os jogadores, e não para times específicos. Por exemplo: Felipe "brTT", ídolo de League of Legends, começou na paiN Gaming, onde ganhou dois de seus cinco títulos do CBLoL, mas partiu para novos desafios: Vivo Keyd, RED Canids, Flamengo… Arrastou consigo torcedores para todas as organizações. Não todos, obviamente, mas boa parte. Para a temporada 2020, retornou à paiN, após boas campanhas no Flamengo.

Ver essa foto no Instagram

 

Uma publicação compartilhada por Felipe Gonçalves (@brttoficial) em

Para ficar claro: não estou dizendo aqui que as organizações não contam com torcidas próprias. Claro que há quem acompanhe fielmente determinadas equipes – principalmente as tradicionais, que estão desde o começo do cenário competitivo, e a própria paiN é um próprio exemplo disso. Da mesma forma, a INTZ. Há também o caso dos clubes de futebol que, naturalmente, arrastam torcedores "de outros tempos" para o esporte eletrônico.

No caso dos pro-players, especificamente, é raríssimo ver um jogador que permaneça sua carreira inteira na mesma equipe. Gabriel "Kami" Bohm, formado desde o começo do LoL na paiN, é um dos raros exemplos. Nos outros games, muitas vezes a movimentação acontece com times fechados ou entre jogadores. Fernando "fer" e Gabriel "FalleN", lendas do Counter-Strike nacional, por exemplo, jogam juntos desde 2014, mas passaram por várias tags: KaBuM, Keyd, Luminosity, SK Gaming, MiBR…

O exemplo mais recente é o de Yiliang "Doublelift", um dos melhores jogadores americanos de League of Legends da história. O atirador deixou a Team Liquid para voltar à Team SoloMid (TSM), equipe onde fez sucesso há alguns anos. O debochado vídeo de apresentação, que você pode ver acima, mostra que a relação de rivalidade nesse sentido é engraçada e bem mais saudável do que no futebol, por exemplo.

Normalmente, algumas line ups ficam marcadas em determinadas organizações, mas é difícil que o alto nível se mantenha, e a separação acaba como algo natural. As experiências no CS de Epitácio "TACO", na Team Liquid, e a de Marcelo "coldzera", na FaZe Clan, por exemplo, evidenciam isso. Obviamente há identificação entre times e jogadores, mas seguir em frente é um processo bem menos traumático do que em esportes tradicionais.

André "Nesk" é apontado como um dos melhores jogadores de todos os tempos de Rainbow Six Siege. Aos 24 anos, se mantém no mesmo nível dos mais jovens

No caso de jogadores de grande expressão, seja qual for o cenário, a repercussão é equivalente. Se André "Nesk", craque do Rainbow Six Siege, deixar a Team Liquid e partir para a FaZe Clan hoje, por exemplo, sem dúvida causaria revolta em torcedores mais fanáticos. Criou-se uma rivalidade natural entre as organizações. Mas não há uma regra geral: são casos isolados.

Por outro lado, não tenha dúvida: boa parte dos torcedores, hoje, da Team Liquid iriam passar a torcer pelo Nesk na FaZe Clan, caso isso, eventualmente, acontecesse. E se o Nobru fosse contratado hipoteticamente pelo Palmeiras Free Fire (time que sequer existe)? Alguma dúvida de que milhares de corintianos passariam a torcer pelo arquirrival?

Equipe do Corinthians de Free Fire ganhou R$835 mil de premiação pelo título mundial

A verdade é que a questão de provocações, brincadeiras e interações entre times, fãs e jogadores rivais é algo muito mais administrável nos eSports. Não à toa não há separações entre torcidas nos campeonatos, muito menos confusões e brigas. E assim deve se manter: um entretenimento saudável, e não um fanatismo desmedido. Talvez nos eSports existam mais fãs do que propriamente torcedores.

Sobre o Autor

Leo Bianchi é jornalista, já foi repórter e apresentador do Globo Esporte. É apaixonado por competição e já cobriu Copa do Mundo, Fórmula 1, UFC e mundiais de CSGO, R6, FIFA, Just Dance e Free Fire. Também é youtuber e Pro Player frustrado.

Sobre o Blog

No GGWP você encontra análise dos cenários competitivos no Brasil e no mundo, além dos bastidores do universo envolvendo times, pro-players e novidades em geral.