Topo

O maldito mercado dos hackers: por que existe tanto cheater nos jogos?

Leo Bianchi

27/06/2020 09h00

Os hackers invadiram até o jogo para celular Free Fire. A Garena, produtora do game, atualizou o anticheat em maio de 2020, mas os cheaters continuam tentando trapacear

"Cheat": em tradução livre do inglês para o português, significa fraude, trapaça, enganação. No ambiente dos esportes eletrônicos, trata-se do maior filme de terror para os jogadores sérios. Décadas se passaram com os games à disposição, a tecnologia segue avançando, mas os cheaters continuam sendo um problema em diversas modalidades. Afinal, por que as desenvolvedores não conseguem dar fim a esse mercado tão profundo que movimenta os bastidores?

Inicialmente, é necessário esclarecer: sim, por mais bizarro que pareça, existem muitas pessoas que acham interessante vencer trapaceando, ainda que seja escancarado. Games do gênero FPS (first person shooter – tiro em primeira pessoa) são os que mais sofrem nesse sentido. São inúmeras as ferramentas ilícitas para acertar tiros e cravar a mira em cima do alvo sem risco de sofrer com o recuo da arma ou a sensibilidade do mouse.

Como quebrar as barreiras impostas pelas produtoras demanda um grande conhecimento de programação e de computação em geral, contar com um sistema de trapaça demanda um investimento. Pois é: se você já achava suficientemente bizarro, não se surpreenda. Há quem pague para se enganar em relação à própria habilidade dentro do jogo e, pior, prejudicar a experiência competitiva de outros.

Os aplicativos que ativam trapaças custam, em média, U$ 150 por mês (R$ 750,00). É uma mensalidade que garante ao trapaceiro não ser banido – ou ser ressarcido em caso de banimento. Essa indústria dos hackers se tornou extremamente lucrativa, quem desenvolve esse tipo de cheat levanta um bom dinheiro. E quanto mais popular o jogo, mais gente pagando pra trapacear e ser "melhor" que os outros. Por isso, há muita gente estudando e procurando formas de desenvolver softwares de trapaça que burlam os anti-cheats dos games.

O Valorant, FPS da Riot Games, surgiu no mercado com a promessa de tentar ao máximo sanar todos os problemas enfrentados por seus concorrentes e pelos fãs do gênero ao longo dos anos. Foi criado o Vanguard, um sistema de anticheat exclusivo do jogo. Porém, a rigidez do programa mesmo no que não diz respeito diretamente do game e diversos bugs relatados por usuários deixou muitos jogadores com o pé atrás. E mesmo assim, não impediu os trapaceiros de entrar no jogo. Mais de 9 mil usuários foram banidos ainda durante a fase BETA do jogo.

– Essa estratégia dificulta o desenvolvimento e a manutenção desses cheats. Isso torna o preço desses recursos maior, limitando o número de jogadores que optam por usá-los no jogo. Ao diminuirmos o tamanho da comunidade de desenvolvedores de cheats, fica mais fácil rastrear os cheats criados e tomar providências (como ações legais) para mantê-los longe do nosso ecossistema – afirmou Paul "Arkem" Chamberlain, líder do sistemas de anticheat do Valorant. Sim, se você cria cheats pode ser processado pela empresa que desenvolveu o jogo.


Em meio à pandemia do coronavírus, com competições online, a polêmica foi reacesa na derrota da MIBR para a Chaos, pelas qualificatórias da cs_summit 6. Diversos clipes envolvendo jogadas suspeitas do time americano foram postadas em redes sociais. Os próprios jogadores brasileiros admitiram que acharam tudo muito estranho, assim como o experiente Alexandre "Gaules", com longa passagem como pro-player, técnico e influenciador de Counter-Strike.

Cabe às produtoras e organizadores de campeonato estabelecerem uma fiscalização cada vez mais rígida. Não só para competições de alto nível, mas também para jogadores amadores. Ninguém merece ter a experiência de um game estragada ou diminuir seu gosto por determinado título porque alguém que está trapaceando. É uma missão de todos denunciar e cobrar soluções para que os jogos cumpram sua real função: diversão e entretenimento por meio da competitividade.

Sobre o Autor

Leo Bianchi é jornalista, já foi repórter e apresentador do Globo Esporte. É apaixonado por competição e já cobriu Copa do Mundo, Fórmula 1, UFC e mundiais de CSGO, R6, FIFA, Just Dance e Free Fire. Também é youtuber e Pro Player frustrado.

Sobre o Blog

No GGWP você encontra análise dos cenários competitivos no Brasil e no mundo, além dos bastidores do universo envolvendo times, pro-players e novidades em geral.