Da favela ao Corinthians: a história de sucesso de Level Up no Free Fire
Leo Bianchi
01/02/2020 06h30
Samuel "Level Up" comemorando o título mundial de Free Fire no Rio de Janeiro em 2019
A tradução literal do termo em inglês "Level Up" é subir de nível. Foi isso que o Samuel dos Santos Lima, de 19 anos, fez várias vezes na vida. O ponto máximo foi o título mundial de Free Fire conquistado no Rio de Janeiro, em novembro do ano passado. Mas para chegar ao topo, ele teve de começar "upando" outras coisas.
Equipe do Corinthians de Free Fire ganhou R$ 835 mil de premiação pelo título mundial
Level Up nasceu e foi criado na favela Costa Azul (também conhecida como "Inferninho"), em Salvador, Bahia. A infância foi pobre e sofrida. Até os 12 anos, os pais não o deixavam sair de casa. Ele e o irmão mais velho, David, tinham de brincar sob a supervisão da mãe. Era quase um confinamento, pelo motivo óbvio: segurança.
A favela era muito perigosa, tinha tiroteio direto. Minha mãe não deixava eu sair porque tinha risco de tomar uma bala perdida
Level Up, jogador de Free Fire do Corinthians
Level Up ainda bebê, no colo da mãe, quando a família morava na favela Costa Azul, em Salvador
A mãe era costureira. O pai, autônomo, fazia de tudo um pouco até se converter e ingressar na vida religiosa. Virou pastor evangélico e aos poucos a situação financeira melhorou. Enfim, a família saiu da favela. Porém, Level Up só ganhou o primeiro celular aos 16 anos: um Moto G2. Foi com esse telefone que ele teve o primeiro contato com os games.
No ano seguinte, surgiu o Free Fire. Level Up entrou de cabeça no jogo e começou a se destacar. Os melhores momentos das partidas tinham destino: o YouTube. Conforme a popularidade do game crescia, Level Up subia de nível também na plataforma de vídeos e não demorou pra atingir a marca de um milhão de inscritos em apenas sete meses (hoje, 1,9 milhão). Nesse meio tempo, começaram a chegar convites de times para jogar profissionalmente.
A carreira ia bem. A relação com os pais, nem tanto, porque eles eram contra a carreira de jogador de esporte eletrônico. Por conta da divergência dentro de casa, Level Up lembra: "Tive de tomar uma decisão difícil. Quando fiz 18 anos, peguei o dinheiro que tinha juntado no YouTube e saí de casa. Aluguei um lugar pra mim e foquei na carreira. Mas isso gerou um desgaste. Fiquei uns 5 meses sem falar com meus pais".
Entre treinos, campeonatos e livestreams, Level Up passava, em média, 14 horas por dia no Free Fire. O primeiro time dele se chamava BOPE – e só durou dois meses. Depois passou por Magnatas, GOD e, por fim, Corinthians. Foi quando ele se mudou para São Paulo e se juntou aos companheiros Fixa, Japa e Nobru. Com essa line up, Level Up foi campeão da Pro League e do campeonato mundial de Free Fire em 2019.
Na jogada que deu o mundial ao Corinthians, inclusive, Level Up foi fundamental. Em seu canal no YouTube, ele fez um vídeo comentando os momentos decisivos da queda.
De quebra, ainda em 2019, Level Up foi eleito o atleta revelação no Prêmio eSports Brasil.
Level Up recebe o troféu de atleta revelação no Prêmio eSports Brasil em 2019
Mais do que títulos, Samuel reconquistou a família. "Agora tá tranquilo, tá tudo certo", resume. Ele ajuda a sustentar a mãe, que mora em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. O pai ainda vive em Salvador.
Hoje me sinto realizado. Feliz. Menino de favela é um cara sonhador, e quando realiza os sonhos fica até besta, não acredita no que tá acontecendo
Pode acreditar, Level Up: no game e na vida, você venceu!
Sobre o Autor
Leo Bianchi é jornalista, já foi repórter e apresentador do Globo Esporte. É apaixonado por competição e já cobriu Copa do Mundo, Fórmula 1, UFC e mundiais de CSGO, R6, FIFA, Just Dance e Free Fire. Também é youtuber e Pro Player frustrado.
Sobre o Blog
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