Preconceito: o sucesso do Brasil nos eSports incomoda os gringos?
Leo Bianchi
02/07/2020 09h00
Brasileiros da Ninjas in Pyjamas (NiP) durante o Six Invitational de 2020
Uma discussão levantada pelo streamer Alexandre "Gaules" no último domingo gerou repercussão e rapidamente virou assunto entre os fãs de eSports. Após postar um print das estatísticas de uma derrota da Chaos para a Ze Pug Godz, o profissional reacendeu a polêmica sobre a suposta trapaça da equipe americana contra a MIBR nas qualificatórias para o cs_summit 6 e virou alvo de grandes figuras internacionais do CS:GO – como Nicolai "dev1ce", da Astralis, e Danny "fRoD".
Gaules sustenta deliberadamente a posição de que a Chaos utilizou cheats para levar a melhor sobre os brasileiros, o que o levou a ser criticado. O argumento contrário é o de que ele está sendo irresponsável ao "jogar na fogueira" jogadores jovens do cenário competitivo sem as devidas provas.
A tréplica de Gaules à situação ampliou o debate e questionou sobre a xenofobia sofrida pelos brasileiros nos esportes eletrônicos – um fator, na visão dele, nunca combatido pelos estrangeiros. Ele citou o fato de os representantes nacionais, especialmente os torcedores, serem alvo constante de racismo, chamados de "macacos", e a ausência de qualquer comentário por parte das figuras relevantes fora do país.
"Em qualquer campeonato internacional, você entra em stream, e a gente é macaco. Você entra em um fórum do HLTV, e você é um macaco. Ninguém, nunca um jogador lá de fora, apareceu para defender você. Nenhum comentarista, personalidade. Todo mundo assiste a isso, passa um pano e ninguém faz nada", disse Gaules
A discussão é muito ampla. Essa reclamação não se limita ao Counter-Strike. Quem vive o cenário competitivo de outros jogos sabe que há muito preconceito velado com o Brasil. Um vídeo relembrado por alguns fãs ao longo da discussão e que dá um bom parâmetro disso é o do comentarista Duncan "Thorin", feito em 2017, sobre a polêmica envolvendo a Immortals e o jogador Vito "kNg" – desligado da organização após ameaçar o canadense Pujan "FNS", à época na Couter Logic Gaming, via Twitter.
Após ponderar diversos argumentos sobre a equipe, que naquela oportunidade perdeu um mapa na final da DreamHack Montreal por W.O. devido a um atraso, Thorin comenta a atitude de kNg e diz que não é a favor de generalizar, mas que é necessário entender que muitos vêm de lugares "pobres, subdesenvolvidos, e que não tiveram a mesma educação, não leram os mesmos livros, assistiram aos mesmos filmes, ouviram as mesmas músicas ou tiveram o mesmo impacto cultural" que outros. É possível assistir ao trecho, em inglês, a partir dos 25 minutos do vídeo abaixo.
O que dizer, então, do americano que foi campeão mundial de Fortnite, Kyle "Bugha", que no alto dos seus 17 anos de idade disse não saber que o Brasil era um país? Durante transmissão na Twitch, ele se surpreendeu com esse fato e também com a América do Sul ser um continente. Pois é, por mais bizarro que pareça, aconteceu. Nas redes sociais, brincou que o único mapa que conhece é o do Battle Royale da Epic Games.
Se você já enfrentou nossos vizinhos sul-americanos em qualquer game on-line, há grande chances de já ter sido chamado de macaco. Quando o adversário é norte-americano, o tratamento é diferente, mas não menos xenofóbico: o desprezo. Claro,não vamos generalizar, não é todo estrangeiro que é preconceituoso, mas a barreira internacional da internet oferece ao agressor a segurança de falar os maiores absurdos possíveis com uma certa segurança de que nada lhe acontecerá, infelizmente!
O fato é que o esporte eletrônico ampliou a voz de muitos no Brasil e também a relevância do país perante o mundo neste mercado. Basta reparar em vídeos que mostrem imagens de torcedores, seja qual for o campeonato de eSports: se houver registros de brasileiros nas arquibancadas, eles certamente estarão nas produções. A animação contagiante, que em breve todos poderão presenciar no Major de CS:GO no Rio de Janeiro, é mais um dos elementos que fazem o país tão especial.
Em uma visão geral, o esporte eletrônico é um elemento perfeito para a união: de diferentes nacionalidades, gêneros, idades e gostos diferentes. Sabemos que os obstáculos e o sentimento de "terra sem lei" passado pela internet é um enorme desafio, mas não há espaço para xenofobia em lugar nenhum da sociedade. Muito menos em um mercado em que o respeito, do início da partida ao "GGWP" no fim dela, prevalece.
Sobre o Autor
Leo Bianchi é jornalista, já foi repórter e apresentador do Globo Esporte. É apaixonado por competição e já cobriu Copa do Mundo, Fórmula 1, UFC e mundiais de CSGO, R6, FIFA, Just Dance e Free Fire. Também é youtuber e Pro Player frustrado.
Sobre o Blog
No GGWP você encontra análise dos cenários competitivos no Brasil e no mundo, além dos bastidores do universo envolvendo times, pro-players e novidades em geral.