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A culpa do atual fracasso da MiBR não é exclusivamente dos jogadores

Leo Bianchi

14/09/2020 09h00

MiBR completa dois anos sem conquistar títulos. Pressão aumenta e crise se aprofunda com os recentes acontecimentos (Reprodução/BLAST)

Uma das maiores tags da história do Counter-Strike brasileiro, a MiBR vive uma de suas mais profundas crises da história. Das épocas gloriosas do CS 1.6, com direito ao título da histórica ESWC (Electronic Sports World Cup) de 2006, a organização tentou voltar apostando nos principais nomes do CS:GO nacional, mas o que se viu até aqui foi uma condução extremamente questionável de um projeto que lida com um importante capítulo do esporte eletrônico brasileiro. Afinal, qual será o futuro depois de um desmanche histórico anunciado neste domingo (13)?

Seria leviano dizer que a notícia das saídas de Epitácio "TACO", Fernando "fer"e Ricardo "dead", pegou todos de surpresa. Mudanças radicais aconteceriam, uma hora ou outra. A atual line se tornou uma bomba-relógio – restava saber quando e de que lado iria explodir. A resposta veio – com direito a discordância pública por parte de Vito "kNg, que não escondeu a insatisfação pelas mudanças constantes no elenco desde que ele foi contratado, e Gabriel "FalleN", que se colocou na reserva. Será a primeira vez que fer e Gabriel "FalleN" não jogarão juntos desde 2014.

"… solicitei para não fazer parte mais do time titular enquanto penso nos próximos passos. Esse tempo será necessário para reencontrar minha essência e retornar a paz que preciso para decidir o melhor caminho a seguir, enquanto cumpro outros compromissos contratuais com o MiBR"
FalleN, em comunicado no Twitter

No fim de agosto, a MiBR completou dois anos sem conquistar um título. Como se não bastasse isso, a equipe, que estava em período de bootcamp na Sérvia, acumulou derrotas para organizações irrelevantes do cenário competitivo – como a sueca Galaxy Racer (número 42 no ranking mundial), a polonesa PACT (número 62) e a dinamarquesa Copenhagen Flames (posicionada no impressionante 75° lugar).

É necessário separar o elenco da organização, embora no CS:GO isso costume estar intimamente ligado. Todos torcemos nos últimos anos por Luminosity, SK Gaming e, agora, pela MiBR. Há história de ambos os lados: da mesma forma que FalleN, fer e TACO carregam consigo a história dos dois Majors e dezenas de outros grandes títulos até hoje, a marca também tem um peso enorme na legitimação do cenário.

A reflexão do streamer Alexandre "Gaules", que viveu de dentro essa história há muitos anos e hoje faz um trabalho igualmente nobre na consolidação da base de fãs em suas transmissões, faz todo sentido. Embora seja doloroso para os torcedores, é necessário admitir que o retorno da tag MiBR é um fracasso. Muita coisa precisaria mudar para retornar aos eixos. Não deu tempo, não houve um norte, quanto menos um projeto a longo prazo.

"O retorno do MiBR até hoje é o pior case que já existiu dentro do Counter-Strike nacional. Eles (jogadores) conquistaram o mundo várias vezes, trouxeram alegrias. Porém, na separação jogador e clube, a história do MIBR recente é fracassada. Uma história em que absolutamente nada deu certo", analisou Gaules, em uma stream recente.

A organização não conta com um técnico. O general manager, Tomi "Iurppis", é finlandês e mal aparece para o público. Tampouco o fazem o CEO, Ari Segal, e o executivo, Noah Whinston, da IGC (Immortals Gaming Club). O nome da tag, Made in Brazil, se tornou uma grande ironia. Quem está à frente da organização se encontra distante do público. Recaía sobre jogadores, de forma errônea, a função de sempre explicar o que estava errado na equipe.

Em meio a essa crise técnica, a organização ainda precisou lidar com a suspensão do manager Ricardo "dead" – punido, junto de outros profissionais, por ter utilizado um bug dentro do CS:GO que permitia ao treinador ter visão privilegiada dentro do mapa durante partidas. Um buraco que parece sem fim e demandava uma resiliência além do normal para o elenco, independentemente de sua trajetória vencedora.

O fanatismo brasileiro pelo CS, simbolizado pelo público em grandes competições por aqui nos últimos anos (ESL Pro League e BLAST Pro Series em São Paulo, além da ESL One Belo Horizonte), merece muito mais respeito. E aqui não trato de vitórias e derrotas, já que isso é do jogo. A tag MiBR e esses jogadores lendários não merecem ficar marcados por memórias tão melancólicas. O eSport nacional demanda muito mais do que isso a que estamos assistindo – e, no caso administrativo, não assistindo.

TACO deixou claro, em seu comunicado oficial de saída, que a decisão foi única e exclusivamente da organização. Ou seja: a mudança não aconteceu de forma amigável, e os bastidores reservam novos capítulos e polêmicas para os próximos dias e semanas. Uma pena para ambas as partes, jogadores e equipe, que um projeto tão festejado e que parecia tão ambicioso tenha tomado esse contorno e entrado em um abismo.

Pra retomar o caminha das vitórias não basta apenas trocar jogadores (Divulgação/ECS)

O CS:GO brasileiro tem muitos motivos para se orgulhar, e história é para sempre. Ninguém vai se esquecer do que esses jogadores fizeram juntos, assim como não ignorará quem continua mostrando bons projetos e dando um norte ao FPS nacional, tão forte não somente no título da Valve. Que os erros da MiBR nessa condução sirvam como exemplo e que tenhamos mais notícias sobre títulos e conquistas do Brasil para ler do que sobre mudanças na line, troca de farpas e bastidores conturbados.

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Sobre o Autor

Leo Bianchi é jornalista, já foi repórter e apresentador do Globo Esporte. É apaixonado por competição e já cobriu Copa do Mundo, Fórmula 1, UFC e mundiais de CSGO, R6, FIFA, Just Dance e Free Fire. Também é youtuber e Pro Player frustrado.

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