Topo

"Quando posto vídeo me xingam de macaco lixo", revela streamer de Free Fire

Leo Bianchi

03/06/2020 09h00

(Crédito: arloo/AdobeStock)

Os Estados Unidos viveram dias de tensão e protestos nos últimos dias por conta da morte de George Floyd, homem negro que foi asfixiado até a morte por um policial branco na cidade de Minneapolis. Diversos representantes do esporte, de Michael Jordan a Jon Jones, se envolveram na luta e manifestaram seu apoio. No mundo dos eSports, a questão também foi abordada por diversas figuras relevantes e liga um alerta importantíssimo: a necessidade de todo o ecossistema combater o racismo e o preconceito o tempo inteiro.

O Madden, jogo oficial da NFL, adiou seu evento de revelação para apoiar o momento de luta nos Estados Unidos. Destaque para o comunicado oficial da EA Sports, deixando claro que não havia clima para diversão com novidades sobre o game em meio ao que chamou de "maior que os esportes". Um acerto enorme por parte da produtora – que, inacreditavelmente, ainda teve de ouvir críticas por parte de alguns fãs. A Sony teve a mesma postura ao adiar o evento de revelação do PlayStation 5 por considerar que o momento não é de celebração e que outras vozes devem ser ouvidas.

No Brasil, o streamer Alexandre "Gaules" voltou a dar exemplo ao propor um projeto de divulgação do Wakanda Streamers – um grupo que tem como objetivo enaltecer o trabalho dos profissionais negros nesta área. Ele passará o mês de junho inteiro divulgando ao seu público, que é um dos maiores do mundo no setor de transmissões de games pela internet, os nomes do projeto Wakanda. Aliás, para quem não conhece a ideia, vale a pena conferir o perfil e apoiar o trabalho.

Diversos jogadores do cenário competitivo de vários games mostraram apoio à causa, embora alguns criadores de conteúdo ainda sejam reticentes quanto a se posicionar em causas polêmicas. Mas não há como negar: há muito preconceito ainda nos eSports, basta observar o número de negros em times profissionais de primeira divisão de qualquer liga brasileira e se deparar com um número baixíssimo. Brancos ainda são maioria. Nesse sentido, a Riot Games, responsável pelo League of Legends e pelo Valorant, também acertou em cheio ao dizer que "o silêncio não é uma opção". De fato, não é.

Já sofri com preconceito no jogo, sofro até hoje, o racismo sempre vai estar conosco… Às vezes faço algo ou mato alguém e ouço " só podia ser preto", eu não ligo muito pra essas coisas, amo minha cor, mas tem gente que se ofende – Peu, jogador da Team Liquid

Um game a ser observado com atenção nesse contexto é o Free Fire. Conhecido justamente pela democratização do seu público e dos jogadores e por abrir as cortinas dos eSports a todas as classes sociais, o Battle Royale conta com muitos jogadores profissionais negros, que relatam as suas dificuldades em entrar no meio e se manterem fortes diante de tantos absurdos. O jogador profissional da Team Liquid, Pedro "Peu" Landim, campeão da primeira edição da LBFF já afirmou ter sido ofendido dentro do jogo e nas redes sociais. Infelizmente ele não é o único!

"Já sofri demais. Muitas pessoas hoje em dia ainda são racistas. Quando veem uma pessoa da pele negra crescendo na vida, tentam diminuir. Existe no mundo inteiro. Temos que correr o dobro, até o triplo, para poder conseguir chegar aonde chegamos. Quando eu postava vídeo, muita gente me chamava de "macaco", "preto", "lixo"… Eu sempre deixei essas pessoas de lado. Pra quem tem o psicológico abalado, isso afeta muito (…) O Free Fire abriga todo mundo por causa disso. É um jogo que acolhe, que traz pessoas de diferentes lugares", afirmou Victor Manuel, "El Dizkil", jogador e criador de conteúdo da Los Grandes, que tem outro influenciador de pele preta no seu elenco: Gorila!

Igor Alan, 24 anos, é um dos ícones do Free Fire até por conta do nick Gorila. Mas o início da carreira dele foi muito dura. "No inicio da minha caminhada, até conseguir ganhar certa relevância dentro do cenário, sofri diversos ataques racistas durante as minhas lives, enquanto jogava e conversava com os inscritos, lia comentários de pessoas que só estavam na live para me agredir verbalmente de forma racista. No inicio das lives isso era muito mais intenso do que é hoje, que o numero de pessoas boas e que apenas querem se divertir é muito maior do que o numero daquelas que só querem transmitir o ódio", conta o influencer.

Mas ele levanta um ponto interessante: há menos racismo no universo gamer do que nas ruas. "Infelizmente não estamos totalmente livres da discriminação, porem dentro dos jogos isso é bem menor! A comunidade Gamer/Geek abraça todo tipo de produtor de conteúdo. E isso faz com que quem é negro também tenha suas oportunidades dentro da comunidade! Inclusive tenho vários amigos negros, que mesmo passando por situações de racismo e sendo atacado algumas vezes, ainda assim, alcançaram o sucesso! Isso é muito gratificante" relata Gorila.

Ver essa foto no Instagram

 

Um desafiante mestre! Ukeeeeee . . . . . . . . . . #freefirememe #freefiregame #freefirelucu #freefirenews

Uma publicação compartilhada por iGorila (@igorila_oficiall) em

Não há espaço para racismo. Seja dentro ou fora do jogo, no Brasil ou em qualquer país do mundo. Se você gosta de verdade de games e eSports, toda vez que você se deparar com uma situação que envolva injúrias raciais e qualquer tipo de preconceito, não seja conivente. Busque a forma de denúncia proposta pela respectiva produtora do jogo e faça sua voz ser ouvida. Ignorar não deve ser uma opção, pelo bem de todos nós.

Sobre o Autor

Leo Bianchi é jornalista, já foi repórter e apresentador do Globo Esporte. É apaixonado por competição e já cobriu Copa do Mundo, Fórmula 1, UFC e mundiais de CSGO, R6, FIFA, Just Dance e Free Fire. Também é youtuber e Pro Player frustrado.

Sobre o Blog

No GGWP você encontra análise dos cenários competitivos no Brasil e no mundo, além dos bastidores do universo envolvendo times, pro-players e novidades em geral.