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A história de vida de Cerol, o maior streamer de Free Fire do Brasil

Leo Bianchi

25/01/2020 06h20

"Cerolzera" foi eleito o Melhor Streamer de 2019 no Prêmio eSports Brasil

Esse texto poderia ser roteiro de filme, mas é a história de Lucio dos Santos Lima, o Cerol, eleito o melhor streamer do país em 2019 no Prêmio eSports Brasil. Graças às transmissões de Free Fire, ele se tornou também o maior em números. O carioca de 27 anos viu a média de 100 mil espectadores simultâneos pular para 350 mil quando trocou o YouTube pela NimoTV. Superou nomes consolidados como Gaulês, Yoda, Alanzoka e Netenho.

Mas para chegar ao topo, ele teve de ser o melhor na vida e persistir. Cerol cresceu na periferia do Rio de Janeiro, no bairro Campo Grande. Segundo ele, os amigos "curtiam baile funk de pistola na cintura. Grande parte correu atrás, mas alguns ficaram pelo caminho". Para ajudar na renda familiar, começou a trabalhar com 11 anos num estacionamento. Daí em diante não parou mais: foi atendente num bar, frentista, lavou roupa, descarregou cimento de caminhões e chegou até a animar festas fantasiado.

Cerol, à esquerda, fantasiado de Fred Flinstone. Antes de se dedicar aos games, animava festas para complementar a renda

Mas ele pagou um preço alto: o trabalho o afastou dos estudos. Cerol abandonou o ensino médio na sétima série e voltou a estudar apenas aos 18 anos. Queria ser sargento do exército. Foi nessa época que ele começou o namoro com a atual noiva Ana Caroline, o grande pilar da vida dele. Foi quem o apoiou quando foi expulso da casa do pai depois de uma discussão. Cerol e Ana foram morar juntos num quarto na casa da mãe dele e passaram a estudar juntos para concurso.

O período da manhã era dedicado aos livros. Para se manter, Cerol passou a trabalhar como motorista de aplicativo. Comprou um carro parcelado e rodava o Rio de Janeiro todos os dias da semana, das 15h às 3h. Ele lembra que "trabalhava com um tablet colado no painel do carro ouvindo videoaula o dia todo. Quando chegava em casa resolvia milhares de exercícios sobre as matérias que havia escutado". Com esse dinheiro, ele pagava as prestações do veículo e os estudos da namorada. Até que um dia ele foi assaltado e levado para uma favela. "Roubaram tudo: carro, tablet, dinheiro. Pegaram tudo que tinha", lembra.

O desânimo bateu, mas Ana Caroline estava lá mais uma vez. "Ela tinha acabado de arrumar um emprego como professora de inglês e pediu pra eu parar de trabalhar como motorista" recorda Cerol. Foi aí que o "Free Fire" entrou na vida dele. Era o assunto do momento na comunidade. O jovem decidiu se arriscar e fazer algo totalmente diferente até então: livestreams.

Mas como o dinheiro era curto, a qualidade das primeiras lives não foi das melhores pela ausência de equipamentos mínimos para transmitir as partidas. Surgiu, então, outro anjo na vida de Cerol. "Uma inscrita, chamada Bruna, me deu um monitor, teclado, webcam e tudo que um streamer precisava para fazer live. Eu agarrei aquela oportunidade, não podia desapontá-la", explica.

A webcam Cerol demorou a usar: "Sentia vergonha. Meus amigos me zoavam por eu ter estudado tanto tempo e, depois, estar ali na internet, fazendo live de 'joguinho'. Sempre falavam mal de mim pelas costas. Nisso, criei um bloqueio de mostrar a cara, até porque a casa era feia, o cenário era ruim" lembra.

Era janeiro de 2019 quando começou. Um mês depois já tinha 100 mil inscritos no YouTube. Entre eles, Bruno Goes, o Nobru. Até então, apenas mais um fã, também de origem simples. Cerol o convidou para jogar e promoveu o amigo. "Eu o tenho como filho. Uma vez fui convidado pra um evento em São Paulo, e o Nobru foi me ver, ele era meu fã. Ficamos conversando e paguei o almoço dele. Brinco que foi a primeira vez que o Nobru comeu no shopping", recorda.

À esquerda, o primeiro encontro entre Cerol e Nobru, no início de 2019. Em menos de um ano, estavam juntos representando o Corinthians

A origem humilde facilitou a comunicação com a comunidade do Free Fire – que em sua maioria vive a mesma realidade dos ídolos. O game da Garena aproximou jogadores que até então nunca haviam sido representados por streamers de jogos caros de PC ou console. Além disso, Cerol tem empatia com seu público. Dá conselhos, motiva, ajuda e premia com os famosos "codiguins" (códigos que desbloqueiam itens pagos no jogo). Essa foi a fórmula do sucesso. Em 13 meses, Cerol saiu do nada para ser streamer do Corinthians. Hoje, tem 2,5 milhões de inscritos no YouTube e 2 milhões de seguidores no Instagram. Dinheiro deixou de ser uma preocupação. O casamento com Ana Caroline está marcado para daqui a cinco meses.

Ao falar do sucesso e dos prêmios conquistados, Cerol resume: "Quando peguei o troféu, na verdade, eu estava colocando a mão em todo meu esforço de 2019, o quanto eu me dediquei e ajudei pessoas, quantos sorrisos eu arranquei. Eu fazia 300 horas de live por mês (média de 13h por dia) durante um ano, nunca tirei folga. E ver quem esteve do meu lado chorando de orgulho, naquele momento eu pude perceber: É… Eu venci!".

Cerol se emocionou ao dedicar o prêmio de melhor streamer à noiva Ana Caroline, que chorava na plateia

Humildade e gratidão: características que apenas os melhores têm. Não à toa Cerol se tornou o maior do Brasil!

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Sobre o Autor

Leo Bianchi é jornalista, já foi repórter e apresentador do Globo Esporte. É apaixonado por competição e já cobriu Copa do Mundo, Fórmula 1, UFC e mundiais de CSGO, R6, FIFA, Just Dance e Free Fire. Também é youtuber e Pro Player frustrado.

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